Em um gesto que mistura educação, memória e política esportiva, Carolina Araújo, gerente do departamento de Cultura e Valores Olímpicos do Comitê Olímpico do Brasil (COB), recebeu a Medalha Pierre de Coubertin no segundo dia do Fórum de Estudos Olímpicos 2025. A honraria, conferida por mérito pelo Comitê International Pierre de Coubertin e entregue pelo Comitê Brasileiro Pierre de Coubertin (CBPC), reconhece não apenas serviços prestados ao esporte, mas um compromisso prolongado com a Educação Olímpica e a preservação do legado cultural do movimento.
A distinção é inspirada na Medalha Pierre de Coubertin do Comitê Olímpico Internacional (COI), em uma tradição que remonta à figura de Pierre de Coubertin, o educador francês que, no fim do século XIX, reimaginou os Jogos Olímpicos como um projeto cultural e pedagógico. Coubertin via o esporte como instrumento formador, um espaço em que valores cívicos, disciplina e espírito público deveriam se articular com o desempenho atlético. A Medalha Pierre de Coubertin materializa esse ideal: premiar condutas que elevem a ética e o fair play acima da mera conquista de pódios.
Criada em 1964, a medalha consolidou-se como uma referência internacional para reconhecer atitudes e trajetórias que personificam o espírito Coubertiniano. Em 1997, seu escopo foi ampliado para incluir agentes do campo educacional: professores, pesquisadores e instituições cujo trabalho aproxima o Olimpismo da academia e das práticas pedagógicas. Essa ampliação renovou o caráter didático da homenagem, assinalando que o Olimpismo também é um projeto de pensamento e ensino, não apenas de competição.
Ligando passado e presente, a expansão da Medalha Pierre de Coubertin para o âmbito educacional tem consequências concretas nas estruturas nacionais que sustentam o esporte. Ao reconhecer agentes dedicados à formação e à pesquisa, a medalha cria um elo simbólico entre as políticas de Educação Olímpica e iniciativas institucionais que buscam formalizar a produção de conhecimento sobre o Olimpismo no Brasil. Nesse sentido, a homenagem a Carolina Araújo atua como sinal de um reposicionamento institucional: premiar o trabalho intelectual e pedagógico que sustenta a prática esportiva.
No Brasil, o COB tem procurado operacionalizar essa ideia por meio de estruturas que vão além da alta performance. A Educação e a Cultura figuram como pilares estratégicos, integrando programas de formação, memória e difusão dos Valores Olímpicos. A Gerência de Cultura e Valores Olímpicos (GCVO), sob a liderança de Carolina Araújo, é uma das principais instâncias internas responsável por transformar esse mandato filosófico em políticas e projetos concretos.
A trajetória de Carolina dá substância a essa missão institucional. Ingressou no COB em 1998 como estagiária e construiu, ao longo de mais de duas décadas, um repertório que combina conhecimento da história do Olimpismo, experiência em gestão de projetos culturais e sensibilidade pedagógica. Essa longevidade institucional permite à GCVO operar com continuidade, acumulando acervos, metodologias e interlocuções acadêmicas necessárias para projetos de médio e longo prazo.
À frente da gerência, Carolina coordena áreas que vão da Memória Olímpica e Biblioteca até as publicações oficiais, o programa Transforma – voltado para educação em valores – e a gestão de iniciativas de sustentabilidade. Esse campo de atuação amplia o alcance da GCVO, transformando-a em um núcleo que articula pesquisa, formação e divulgação, sempre com a intenção de recuperar o chamado “lado humanístico” do Movimento Olímpico.
O exemplo de Vanderlei Cordeiro de Lima – o maratonista que, em Atenas 2004, manteve postura de fair play diante de uma agressão e, anos depois, acendeu a pira Olímpica do Rio 2016 – é frequentemente citado pela gerência como caso paradigmático para práticas educativas. A reação de Vanderlei, reconhecida internacionalmente pelo COI, converte um episódio de adversidade em material pedagógico: um enredo que permite trabalhar valores como resiliência, dignidade e espírito esportivo nas salas de aula e nos programas de formação.
Ao conectar experiências heroicas de atletas com a formação acadêmica, a GCVO amplia o alcance simbólico do Olimpismo para além do espetáculo esportivo. Este tipo de articulação foi um dos motivos que levaram o COB a reativar a Academia Olímpica Brasileira (AOB) e reinaugurá-la durante a COB Expo 2025, integrando-a formalmente à área de Cultura e Valores Olímpicos. A AOB tem o propósito de estimular pesquisa acadêmica sobre temas centrais – Pierre de Coubertin, Educação Olímpica, valores e história do Olimpismo – e de formar novas gerações de pesquisadores no país. A iniciativa pretende consolidar um ambiente acadêmico específico para refletir criticamente sobre a dimensão cultural e pedagógica dos Jogos.
O relançamento da AOB também cumpre uma estratégia organizacional: criar uma separação funcional entre o estudo humanístico do Olimpismo e as demandas pragmáticas da alta performance, responsabilidade do Instituto Olímpico Brasileiro (IOB). A comissão acadêmica da AOB incluirá membros de centros de Estudos Olímpicos das universidades brasileiras, uma medida pensada para conferir legitimidade e densidade científica às pesquisas produzidas em seu interior.
A homenagem em forma de medalha à Carolina Araújo não se limitou a celebrar um percurso profissional, mas a consagrar a ideia de que o esporte deve servir a um propósito formativo mais amplo. Como sintetizou a máxima Coubertiniana que inspira boa parte desse trabalho: “Olhar longe, falar com franqueza e agir com firmeza”.