Imagem de capa: (foto por Gaspar Nóbrega/COB)
Em uma cerimônia realizada durante a COB Expo 2025, na tarde de 24 de setembro, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) relançou oficialmente a Academia Olímpica Brasileira (AOB), reafirmando sua vocação não só para o esporte de alto rendimento, mas também para a educação, a pesquisa, a memória e a promoção dos Valores Olímpicos. O ato reuniu dirigentes do COB, atletas Olímpicos e acadêmicos e foi apresentado pela direção do Comitê como um passo estratégico para consolidar o Brasil como referência na pesquisa sobre Olimpismo.
O relançamento foi feito pelo presidente do COB, Marco La Porta, que, assume também a presidência da AOB durante seu mandato. A Olympian Yane Marques, vice-presidente do COB, também será a vice-presidente da AOB.
Falando sobre a iniciativa, Manoela Penna, Diretora de Comunicação, Marketing e Valores Olímpicos do COB, ressaltou o caráter colaborativo entre o Comitê e centros acadêmicos de pesquisa em Estudos Olímpicos; Carolina Araújo, Gerente de Cultura e Valores Olímpicos, apontou o foco humanístico da Academia, explicitando que a AOB não se ocupará de gestão ou alto rendimento, mas de estudos históricos, educativos e filosóficos.
A direção do COB tratou o relançamento como um “ato de responsabilidade cultural e científica”, destacando que a AOB integrará a rede internacional de Academias Olímpicas e atuará em articulação com o Comitê Olímpico Internacional (COI) e a Academia Olímpica Internacional (AOI). A comissão acadêmica anunciada inclui membros do Comitê Brasileiro Pierre de Coubertin: Prof. Nelson Todt (GPEO PUCRS e designado líder da Comissão Acadêmica da AOB), Prof.ª Bianca Gama Pena (GPEO UERJ), Prof. Marcelo Haiachi (GPEOP UFS), Prof.ª Doiara dos Santos (LEOS UFV) e Prof. José Luis Dalla Costa (URI Erechim).
A proposta institucional, conforme o documento disponibilizado pela organização, é que a AOB promova seminários, cursos, editais de bolsas e ações de fomento à pesquisa que conectem universidades brasileiras à agenda internacional dos Estudos Olímpicos – um movimento que, segundo a direção do COB, reforça o protagonismo do Brasil na cena Olímpica mundial e amplia a dimensão educativa do Comitê.
Ao longo do evento, dirigentes do COB enfatizaram que a AOB funcionará na sede do Comitê, sob o Departamento de Cultura e Valores Olímpicos, e que o Comitê destinará recursos e cartas de apoio para fortalecer Centros de Estudos Olímpicos no país – sinal claro de que o COB pretende transformar um anúncio simbólico em uma estrutura operacional efetiva.
A seguir, alguns trechos do Regimento da Academia Olímpica Brasileira:
Artigo 1º – Denominação
Artigo 1º – Denominação.
A Academia Olímpica Brasileira, aqui designada por AOB, é a área educativa acadêmica que atua sob a liderança do Comitê Olímpico do Brasil (COB), por meio do departamento de Cultura e Valores Olímpicos, em estreita ligação com o Comitê Olímpico Internacional (COI) e com a Academia Olímpica Internacional (AOI).
Artigo 2º – Sede
A AOB funciona na cidade do Rio de Janeiro, na sede do Comitê Olímpico do Brasil, situada à Avenida José Wilker, 605, Bloco 1-D, 7 e 8 andares, Jacarepaguá, Rio de Janeiro – RJ, CEP: 22775-040.
Artigo 3º – Finalidade
A AOB tem como finalidade estudar e pesquisar o Movimento Olímpico, quer as suas manifestações na antiguidade, quer na era moderna, bem como as suas causas e efeitos nos campos educativo, filosófico, social e político, contribuindo para a sensibilização e divulgação dos ideais olímpicos. Cabe ressaltar que questões diretamente relacionadas ao desempenho esportivo, ao desenvolvimento esportivo, ao alto rendimento, à administração esportiva, à gestão esportiva e assuntos correlatos não serão contempladas pela Academia Olímpica Brasileira.
Artigo 4º – Temas-foco
A atuação da AOB é dedicada aos seguintes temas-foco: Pierre de Coubertin, Olimpismo, Estudos Olímpicos, Valores Olímpicos, Educação Olímpica. Relacionam-se, direta ou indiretamente, com as áreas: Educação Física, Ciências do Esporte, História, Sociologia, Comunicação, Gestão Esportiva, Direito, Psicologia, Relações Internacionais.
Artigo 5º – Missão da AOB
A AOB tem como missão fomentar estudos sobre Olimpismo e seus Valores, associando-os a questões globais contemporâneas relacionadas ao Movimento Olímpico Brasileiro e Internacional, em conformidade com os princípios estabelecidos pelos gregos antigos e pelo Movimento Olímpico Moderno.
Artigo 6º – Objetivos
A AOB recorrerá a formas de atuação que julgue adequadas para o cumprimento dos objetivos, nomeadamente: (A) Ser um instrumento de promoção dos Estudos Olímpicos, dos Valores Olímpicos e da dimensão humanística do Olimpismo na sociedade; (B) Valorizar o papel dos Centros de Estudos Olímpicos de universidades brasileiras; (C) Promover e incentivar estudos, pesquisas e ações práticas para sensibilização, formação e divulgação do Olimpismo; (D) Organizar palestras e seminários sobre o Olimpismo; (E) Estabelecer maior ligação entre o Movimento Olímpico e as autoridades do ensino acadêmico; (F) Promover a formação de especialistas; (G) Selecionar os candidatos para sessões da AOI; (H) Fomentar e apoiar pesquisas acadêmicas relacionadas aos temas-foco da AOB.
Quando a tocha simbólica do relançamento da AOB foi acesa, um gesto que o Comitê Olímpico do Brasil apresentou como compromisso cultural e científico, ela não ficou apenas no pedestal da cerimônia: foi passada adiante, para a inauguração do Fórum de Estudos Olímpicos 2025.

O encontro foi oficialmente saudado por Georgios Hatzidakis (Vice-Presidente do Comitê Brasileiro Pierre de Coubertin) e pelo Prof. Nelson Todt (Presidente do CBPC e coordenador do GPEO/PUCRS), que celebraram não só o relançamento da AOB, mas também anunciaram que a própria Academia será a responsável por organizar o Fórum a partir de agora – um sinal de institucionalização que, segundo os debatedores, pode trazer estabilidade e alcance às pesquisas nacionais.
A Mesa I do Fórum, intitulada “Mulheres e Olimpismo: Redefinições na governança Olímpica, pautas e perspectivas”, foi mediada pela Prof.ª Bianca Pena e trouxe à tona tópicos de representatividade e memória. A Prof.ª Doiara Santos problematizou o pioneirismo feminino nos Jogos ao recordar como ainda se fala em “a primeira mulher a…”, enquanto a Prof.ª Carolina da Silva abordou contemporaneidade da visibilidade feminina ao analisar o Instagram de medalhistas brasileiras, apontando como essas plataformas reconfiguram espaço público e identidade.

No dia seguinte, o Fórum combinou homenagem e debate: o Prof. Nelson Todt entregou a Medalha Pierre de Coubertin à Carolina Araújo, Gerente de Cultura e Valores Olímpicos do COB, reconhecendo seu papel central na reativação da AOB e nas políticas de Educação Olímpica. A Medalha é uma homenagem do Comitê Internacional Pierre de Coubertin, que busca dar destaque a personalidades que contribuem ativamente para a propagação da vida e obra de Coubertin, além de promover Olimpismo e Educação Olímpica de forma significativa.

Em seguida, a Mesa II, “Liderança e Formação de Treinadoras” centrou discussões em experiências práticas e dados. A treinadora Lindsay Camila falou de conquistas em campo, lembrando seu título da Copa Libertadores com a Ferroviária, e a Prof.ª Julia Barreira trouxe um dado incômodo: “aproximadamente apenas 20% das treinadoras são mulheres no Brasil”, uma estatística que mobiliza propostas de formação e políticas ativas.

A terceira e última sessão, “Cenários e Perspectivas dos Estudos Olímpicos no Brasil”, funcionou como um balanço e prospecção: com falas de Bianca Pena, Doiara Santos, Georgios Hatzidakis, Luis Rolim, Marcelo Haiachi e moderação do Prof. Otávio Tavares, o debate navegou entre tradição e inovação, desde a atualidade do legado de Pierre de Coubertin (conforme lembrado por Hatzidakis: “O legado de Coubertin, quando bem utilizado, faz bem para toda a humanidade”) até a necessidade de incorporar novas ferramentas, como a Agenda Olímpica da Inteligência Artificial, nas pesquisas sobre os Jogos Olímpicos.

Ao longo das mesas, os participantes enfatizaram duas certezas: primeiro, que o fortalecimento institucional promovido pelo COB e pela AOB abre janelas concretas para financiamento, bolsas e eventos regulares; segundo, que é preciso combinar rigor metodológico com abertura interdisciplinar, trazendo historiadores, sociólogos, comunicólogos, especialistas em educação e técnicos do esporte para um diálogo que seja simultaneamente crítico e construtivo.
Para o público e para os organizadores, o saldo imediato foi otimista. O Fórum, agora sob a égide da AOB e apoiado pelo COB, surge como uma plataforma que promete transformar declarações institucionais em agendas de pesquisa, formação e difusão: um passo que, para muitos presentes, confirma o compromisso do Comitê em elevar o Brasil no mapa global dos Estudos Olímpicos, alinhando prestígio institucional e produção científica.
Entre as mesas também houve um efervescente circuito de comunicações científicas: estudantes de graduação e pós-graduação apresentaram trabalhos sobre temas variados temas da área dos Estudos Olímpicos. As sessões de comunicações ofereceram um panorama da produção acadêmica emergente no Brasil e funcionaram como momento prático de conexão entre a agenda institucional da AOB e as pesquisas que ela pretende fomentar.
No fechamento do Fórum de Estudos Olímpicos 2025, ficou a impressão de que o gesto simbólico do relançamento da Academia Olímpica Brasileira já começa a produzir efeitos concretos: a AOB, sob a égide do Comitê Olímpico do Brasil, reapareceu não apenas como selo institucional, mas como promessa de infraestrutura para a pesquisa e a formação. Marco La Porta, presidente do COB, colocou o evento na linha de um compromisso estratégico do Comitê com a educação e os valores do Olimpismo, sublinhando que a organização quer “fazer do Brasil um polo de estudos e de referência no diálogo internacional sobre os Estudos Olímpicos. Uma nação esportiva”.
