Após 5 anos de preparação e duas semanas de Jogos Olímpicos, as Olimpíadas de Tóquio 2020 chegam ao fim. Pela primeira vez na história uma edição do megaevento é adiada e ocorre sem nenhum espectador além das comissões técnicas, atletas, organizadores e voluntários. A pandemia do novo coronavírus reforçou os cuidados e a importância da união das pessoas em um contexto difícil e melancólico. Apesar das dificuldades, os Jogos aconteceram e, cada vez mais, transmitiram mensagens que caracterizam as exigências e as necessidades da sociedade moderna.
Recordes Olímpicos e Mundiais foram superados, mas muitos outros temas receberam especial atenção durante o evento. Enquanto protestos do público japonês ocorriam no lado de fora dos centros de competições, o skate, surfe, karatê, escalada esportiva e beisebol faziam suas estreias como novas modalidades do Programa Olímpico, a fim de fomentar a participação do público jovem nos Jogos, um dos principais objetivos do Comitê Olímpico Internacional (COI). Além disso, logo na primeira partida do futebol feminino as atletas realizavam protesto antirracista dentro do gramado, ato concedido e previsto pelo COI após a mudança do Artigo 50 da Carta Olímpica, além da primeira manifestação LGBTQIA+ durante a edição. Mais tarde, a final no futebol feminino entre Canadá e Suécia protagonizou a primeira medalha Olímpica para uma atleta trans não-binária na história dos Jogos, no caso de Rebecca Quinn, que já havia sido medalhista em 2016, mas ainda não era assumida.
O desenvolvimento das temáticas emergentes, como a Liberdade de Expressão, fizeram com que Tóquio e o mundo todo repensasse a maneira de enxergar atletas e, sobretudo, quem está por trás de cada um deles: o ser humano. A exemplo disso, considerada por muitos especialistas melhor ginasta da atualidade, a americana Simone Biles desistiu de continuar disputando as competições após ótimos resultados no início dos Jogos. A atleta Olímpica afirmou que era momento de cuidar da sua saúde mental, e que as exigências e responsabilidades atribuídas nos últimos dias por uma medalha Olímpica afetaram seu desempenho e estado emocional enquanto indivíduo: “Temos que proteger nossas mentes e nossos corpos e não apenas sair fazendo o que o mundo quer que façamos”, refletiu Biles. Ao mesmo tempo, muitos debates iniciam no que diz respeito a humanização do atleta que, diferente do que a torcida popular espera, precisam de descanso e têm uma vida além das provas em eventos.
Algumas iniciativas e gestos simbólicos também proporcionaram a manifestação do Espírito Olímpico durante os Jogos, como as bolsas originadas da Solidariedade Olímpica à atletas, das quais resultaram em 27 medalhas de ouro, 32 de prata e 42 de bronze, ou ainda as diversas mensagens de apoio aos Comitês Olímpicos Nacionais e a Equipe de Refugiados. Nesta perspectiva, é possível verificar que Tóquio 2020 deixa muito mais que um legado físico e estrutural na cidade-sede, mas uma mensagem para o mundo de que o esporte, mais que uma ferramenta para a paz, deve agir a serviço do ser humano e da vida.
A esperança também foi um marco da edição, como disse o próprio Presidente do COI durante a Cerimônia de Encerramento: “O esporte voltou ao centro das atenções. Bilhões de pessoas em todo o mundo se uniram pela emoção, compartilhando momentos de alegria e inspiração. Isso nos dá esperança. Isso nos dá fé no futuro […] Pela primeira vez desde o início da pandemia, o mundo inteiro se uniu”, afirmou Thomas Bach.