Nascido em 1863, em Paris, Pierre de Coubertin desde cedo se caracterizou como um esportista eclético, que gostava de boxe, esgrima, equitação, remo, tênis e ciclismo. Sua bicicleta, inclusive, tinha um nome particular adotado pelo Barão: “Nini patte-em-l’air” – porque um de seus pedais permanece inevitavelmente para cima enquanto o outro para baixo. Reafirmou seu gosto ao dedicar-se durante maior parte de sua vida à promoção de dois pilares fundamentais para suas ideias na época e que hoje são imprescindíveis em um mundo globalizado: o esporte e a educação. Coubertin, ainda assim, dizia que não bastava entregar uma bola para um grupo de crianças e, então, haveria um desenvolvimento. Ele insistia em afirmar que era necessário trabalhar em como ensinar as crianças e, acima de tudo, uma forma eficiente de educa-las por meio da prática esportiva. Este pensamento é um dos grandes motivadores pelos quais Coubertin é conhecido atualmente como um grande pedagogo.
Ele acreditava firmemente que o esporte era a chave para desenvolver a energia mental necessária para uma saúde integral do indivíduo. Por isso, foi Coubertin quem esteve por trás da criação do Símbolo Olímpico exposto pelos cinco aros, em 1913; além da participação na iniciativa da Carta Olímpica e do protocolo, do juramento dos atletas e dos principais componentes das cerimônias de abertura e encerramento dos Jogos. Foi ele também quem disse: “O importante na vida não é o triunfo, mas a luta; o essencial não é ter vencido, mas ter lutado bem”. Estas propostas possibilitam o diagnóstico do Olimpismo enquanto filosofia de um movimento que começou com o esporte, passou pela educação e se tornou, portanto, Olímpico.
No entanto, é de se reconhecer que muitas das ideias de Coubertin são provenientes de outros fatos que aconteceram no passado e tiveram relevante contribuição para os projetos que previam o seu futuro, afinal, como o próprio francês dizia: “O Olimpismo faz parte da história, e reivindicar os Jogos Olímpicos faz parte dela”.
Na primeira edição dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, em Atenas 1896, Coubertin buscou nas raízes dos Jogos da Antiguidade referências em alusão ao legado grego: a maioria das competições foram realizadas no antigo estádio Panatenaiko – que foi restaurado para a ocasião -, a maioria dos esportes do programa do evento antigo foram implementados na edição, os organizadores inventaram uma corrida inspirada na antiguidade – maratona – e, de forma geral, os Jogos lutam por um mundo mais pacífico. Entre as semelhanças da modernidade, a Trégua Olímpica pedindo o fim de todos os conflitos lembra o conceito de trégua observado durante os Jogos Antigos. Sagrada e respeitada em toda a Grécia Antiga, a Trégua Olímpica anunciada por mensageiros antes dos Jogos permitiu que espectadores, atletas e oficiais viajassem de e para Olímpia em segurança pelas inúmeras zonas de batalha de forma segura e com respeito. Hoje, a Trégua Olímpica é objeto de uma resolução das Nações Unidas pedindo a suspensão das hostilidades durante o período dos Jogos e a busca de meios de resolução pacífica em áreas de tensão. Os atletas que apoiam esta iniciativa são convidados a assinar um “Muro da Trégua” na Vila Olímpica – mesmo local em que todos ficam hospedados juntos, independentemente de sua nação, durante as duas semanas do megaevento.
Foi desta maneira que Coubertin conduziu a proclamação dos Jogos após a criação do Comitê Olímpico Internacional (COI), em 1894. Naquela noite, o Barão pôde imaginar de forma contundente seu sonho da Ideia Olímpica tornando-se realidade e provar ao mundo que é possível um desfile internacional de atletas demonstrando respeito mútuo, admiração, amizade e, acima de tudo, paz.
Pierre de Coubertin não hesitou em acrescentar um terceiro pilar às suas bases filosóficas, afinal, não há maneira de praticar esporte ou construir educação sem a paz. Paradoxalmente, embora ele tenha nascido em uma França marcada pela Guerra Franco-Prussiana, de 1870 a 1871, participou constantemente de eventos que debatessem a paz e suas ramificações em âmbitos nacionais e internacionais. Manteve sua preocupação na juventude, mas não deixou de alertar adultos e mais velhos sobre a importância do valor do bom exemplo e o bom relacionamento para a formação das próximas gerações.
Em 1887, Coubertin ouviu Jules Simon dar o discurso principal na assembleia anual dos Sindicatos para a Paz Social de Frédéric Le Play, exigindo “o direito de jogar” para todos os estudantes franceses. Embora tivesse apenas 24 anos na época, o Barão conseguiu formar uma aliança com Simon, que era o ex-primeiro-ministro francês muito requisitado, mas abraçou as ideias de Coubertin de imediato. Através de Simon, Coubertin ganhou acesso aos salões do poder na política e na academia. Com o lançamento do Comitê Jules Simon em 1888, criado para popularizar o esporte em clubes e escolas, Coubertin deu força ao seu trabalho para o desenvolvimento da reforma educacional francesa. Ele também participou do Primeiro Congresso Universal da Paz, onde formou alianças importantes com líderes do crescente movimento internacional pela paz. As cerimônias, exposições, congressos e apresentações culturais que o Barão presenciou na feira se expressaram mais tarde nas edições dos Jogos Olímpicos, com as cerimônias de abertura e encerramento ganhando maior atenção.
Foi neste terceiro pilar que Pierre de Coubertin teve ampliada a sua ótica sobre as necessidades da sua época, a partir de um olhar futurista e emergente em relação às diferentes camadas da sociedade e as respectivas desigualdade cultivadas entre elas. Em novembro de 1892, quando apresentou sua primeira proposta pública para trazer os Jogos Olímpicos de volta à vida, ele disse: “Vamos exportar nossos esgrimistas, nossos corredores, nossos remadores para outras terras, pois aí está o livre comércio do futuro, e no dia em que o fizermos a causa da paz terá recebido um aliado forte e vital”.
Seu interesse no fomento de uma consciência pacifica entre os atletas e representantes das nações nos Jogos Olímpicos teve sua preocupação e recebeu energias estratégicas para que tivesse um resultado efetivo nas edições do megaevento, trazendo prestígio e, sobretudo, força para o movimento pacifista que surgia em meio a união entre esporte e educação: na abertura do Congresso Olímpico no Grande Salão da Sorbonne, em 1894, os Jogos Olímpicos renascem. Todavia, o que destaca-se, ainda, é que entre as 2.000 pessoas reunidas no local, os líderes do movimento pela paz estiveram presentes. Dos 78 delegados honorários listados no programa, mais da metade estavam diretamente ligados ao movimento pela paz, mais precisamente seis dos 13 primeiros ganhadores do Prêmio Nobel da Paz – cinco indivíduos e uma instituição.
Em uma época que a guerra ameaçava o futuro, destruía sonhos e diminuía as relações entre as nações, Pierre e Coubertin viu no esporte um meio para alcançar a paz através de símbolos que formam o caráter humano, como respeito, igualdade e perseverança. Foi neste momento que os Jogos Olímpicos se tornaram realidade.
Neste dia 6 de abril, o Comitê Brasileiro Pierre de Coubertin relembra o Dia Internacional do Esporte para o Desenvolvimento e pela Paz.