O primeiro dia contou com conferências, painéis e sessões de comunicações orais
O Fórum de Estudos Olímpicos 2022 teve seu início nesta sexta-feira (4), recebendo pesquisadores, professores, estudantes e autoridades internacionais do Movimento Olímpico e da área de Estudos Olímpicos, em Juiz de Fora (MG). Os temas abordados neste primeiro dia de evento foram: 40 anos do Centro de Estudos Olímpicos do Comitê Olímpico Internacional (COI); Gestão e Tecnologias Avançadas no Esporte; Mulher e Esporte; e História Olímpica e Memória do Esporte.
Ao final do dia, duas Sessões de Comunicações Orais contaram com apresentações de diversos trabalhos com temáticas Olímpicas, que foram avaliados por duas bancas de professores.
O evento terá três dias de duração, com a Cerimônia de Encerramento no dia 6 de novembro, a partir das 11h45.
Abertura do evento
A conferência de abertura do Fórum de Estudos Olímpicos 2022 contou com a apresentação da Srª. Nuria Puig, do Centro de Estudos Olímpicos do Comitê Olímpico Internacional. Com a mediação de Luis Henrique Rolim, membro do Comitê Brasileiro Pierre de Coubertin, o tema foi os 40 Anos do Centro de Estudos Olímpicos do Comitê Olímpico Internacional.
Em sua apresentação, Nuria explicou que as origens do Centro provêm de Pierre de Coubertin que, no início do século XX, já demonstrava interesse pela continuação da sua ideia Olímpica: “Os Estudos Olímpicos serão os principais responsáveis por preservar o meu trabalho”, comentou o Barão em uma de suas passagens. Ao longo de sua apresentação, a representante do COI falou sobre a história do Centro de Estudos Olímpicos, que começou em 1993, na gestão do então presidente Juan Antonio Samaranch. Falou também sobre a criação do Museu Olímpico, que está localizado na Villa du Centenaire, em Lausanne, desde 2021.
Nuria comentou ainda sobre a missão do Centro, que é estudar e divulgar as dimensões históricas, culturais e sociais do Olimpismo e dos Jogos Olímpicos, além de contar com o suporte de organizações nacionais, internacionais e o apoio de mídias. Introduziu os recursos e atividades do Centro e mencionou as coleções e arquivos históricos do Movimento Olímpico que o público tem à disposição, fazendo uma menção à Olympic World Library, que conta com um catálogo de livros e arquivos oficiais com mais de 38.000 títulos e 11.000 documentos já digitalizados para acesso do público. A coleção é tida como referência na área e aborda muitos temas relacionados ao Movimento Olímpico, Jogos Olímpicos e ao Comitê Olímpico Internacional.
Gestão e Tecnologias Avançadas no Esporte
O primeiro painel do dia, “Gestão e Tecnologias Avançadas no Esporte”, foi apresentado pela Profª. Bianca Gama Pena, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e membro do Comitê Brasileiro Pierre de Coubertin, e pelo Prof. Heglison Toledo, da Universidade Federal de Juiz de Fora, e foi mediado pelo Prof. Alberto Reppold Filho, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e membro do Comitê Brasileiro Pierre de Coubertin.
Em sua fala, Pena abordou um estudo de caso sobre a plataforma virtual eMuseu do Esporte – parceiro do CBPC -, que nasceu na UERJ, tendo mais de 100 colaboradores, envolvendo diversas instituições acadêmicas, esportivas e inclusive atletas Olímpicos. Pena aludiu ao conceito de “onda do mar” quando se referiu ao uso da tecnologia. Assim como uma onda vem, reúne água e então volta e dispersa, a tecnologia reúne informações e então dispersa entre o público, dentro de um ambiente único: o eMuseu. Isso conecta a todos com conteúdo, informações e experiências virtuais enriquecedoras.
“São inúmeros desafios, e para inspirá-los nessa jornada tecnológica, desde a forma de fazer o conteúdo chegar e ser assistido, todas as exposições que vocês assistiram, é um grande desafio do ponto de vista tecnológico, mas o maior desafio é fazer esses conteúdos se conectarem com as pessoas. Então criamos a visita guiada onde grupos de escolas podem visitar e se conectar com as crianças das escolas”, afirmou a Professora.
Por fim, destacou que a tecnologia do eMuseu está em constante atualização, acompanhando questões como acessibilidade, direitos de imagem e sustentabilidade.
Na segunda fala do painel, o Professor Heglison Toledo fez sua apresentação sobre gestão e tecnologia. Iniciou sua fala com a Agenda 2020 do COI, destacando os tópicos sustentabilidade, credibilidade e juventude. Toledo explicou que atualmente a sociedade está na Era 4.0, a quarta ‘revolução industrial’, e que as pessoas podem ser divididas entre ‘nativos digitais‘, que seria o público que nasceu no século XX, e os ‘nativos sustentáveis‘, que nasceram no século atual, principalmente a partir de 2010. A partir dessa diferença geracional, o Professor explicou que todos precisam se adequar às mudanças cada vez mais frequentes, que estão presentes na evolução da tecnologia e da própria sociedade, conforme apontou: “O desenvolvimento do ambiente digital, a construção ou remodelação do modelo mental, se eu mantiver o modelo mental em que fui desenvolvido, talvez eu não consiga me comunicar com meus filhos”.
Por fim, Toledo explicou que com a chegada da ‘indústria 5.0‘, há também novos pilares para a sociedade 5.0, como qualidade de vida, sustentabilidade e inclusão.
Mulher e Esporte
O segundo painel do dia, “Mulher e Esporte”, teve a presença de Profª. Claudia Fernanda Rojas, da Escuela Nacional del Deporte; Profª. Doiara Santos, da Universidade Federal de Viçosa; e Profª. Mariana Novais, da Universidade Federal de Juiz de Fora. O seminário contou com a mediação da Profª. Fernanda Faggiani, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
O painel começou com a Profª. Claudia Rojas, apresentando seu trabalho sobre o papel da mulher ligado ao esporte, citando assuntos como visibilidade, aprendizado, administração esportiva, Valores Olímpicos e o desafio da igualdade de gênero.
“O esporte tem o poder de ultrapassar as barreiras de sexo, raça, religião e nacionalidade”, afirmou Claudia. Citou também um trecho da Carta Olímpica, de que o esporte deve ser uma prática de todos, ao abordar uma linha do tempo em que exibia a evolução da participação de atletas mulheres transgêneros em competições femininas, entre 2005 e 2020. Em suas conclusões, reforçou que a inclusão da mulher no esporte é importante não só para a sociedade, mas para o esporte no geral.
Na segunda fala do painel, foi a vez da Profª. Doiara Santos apresentar seu trabalho, intitulado “Mulheres, Movimento Olímpico e Interseccionalidade”, que começou abordando sobre a participação das mulheres no esporte, com uma linha do tempo mostrando a primeira participação feminina nos Jogos Olímpicos, em Paris 1900, se estendendo até os dias atuais.
“No primeiro plano buscávamos uma conquista, que era a participação nas competições, e hoje vemos que é necessário, no nosso dia-dia, solidificar e reafirmar essas conquistas”, refletiu Santos.
Doiara explicou sobre o conceito de interseccionalidade, que representa os marcadores sociais – de gênero, raça, classe, sexualidade – que interagem entre si influenciando a forma como experimentamos a vida em sociedade, inclusive no Mundo Olímpico. Terminou sua apresentação ressaltando a importância de ter mais painéis que abordam o tema da mulher no esporte, trazendo biografias de mulheres do mundo esportivo e Olímpico, cada vez mais buscando uma reflexão sobre o tema.
Na terceira apresentação do painel, foi a vez da Profª. Mariana Novais apresentar seu trabalho “Empoderamento de Meninas e Mulheres por Meio do Esporte”. Iniciou sua apresentação falando sobre a Agenda 2020 do COI, que busca entre seus objetivos alcançar a igualdade de gênero e empoderar mulheres e meninas.
Ao decorrer de sua fala, Novais dissertou sobre o termo empoderamento: “Não é algo que vai ser repassado para outra pessoa, é o processo de autorreconhecimento e reconhecimento das igualdades de gênero, de agir no sentido de provocar mudanças estruturais por uma sociedade mais igualitária”.
História Olímpica e Memória do Esporte
O tema do terceiro painel do dia foi “História Olímpica e Memória do Esporte” e contou com a presença do Prof. Dante Gerardo Parra, do Instituto Superior San Miguel, membro do Comitê Pierre de Coubertin Argentina e membro do Centro Latinoamericano de Estudios Coubertinianos; Srª. Rita Nunes, da Universidade Nova de Lisboa; Profª. Carolina Fernandes da Silva, da Universidade Federal de Santa Catarina; e Prof. Maurício Gatas Batta Filho, da Universidade Federal de Juiz de Fora. O painel foi mediado pela Profª. Ester Liberato Pereira, da Universidade Estadual de Montes Claros.
Parra abriu o painel falando sobre Pierre de Coubertin, que além de criador dos Jogos Olímpicos da Era Moderna também foi pedagogo, e em seguida relacionou com José Zubiar, educador argentino e um dos 13 membros fundadores do Comitê Olímpico Internacional.
“Zubiar levou uma série de inovações pedagógicas, realizando atividades práticas nas grades curriculares dos jovens estudantes, quando foi reitor do Colégio Concepción del Uruguay“. O Prof. Parra fez, inclusive, um comparativo com o modelo de educação física brasileiro que atualmente só possui um dia de prática, ao contrário da Argentina que possui dois.
A segunda painelista foi a Srª. Rita Nunes, diretamente de Portugal, que dissertou sobre “História Olímpica e Memória do Desporto“.
Rita iniciou falando sobre o que é o Movimento Olímpico, suas origens e a criação dos Jogos Olímpicos da Era Moderna por Pierre de Coubertin. Dissertou também sobre o fato de que a partir de 1924 houve uma nova organização do Comitê Olímpico de Portugal (COP), que permitiu um desenvolvimento das práticas esportivas, o que levou à conquista da primeira Medalha Olímpica do país, nos Jogos de Paris daquele mesmo ano.
Na terceira apresentação do painel, foi a vez da Profª. Carolina Fernandes da Silva apresentar seu trabalho intitulado “Jogos Olímpicos em História Regional: Memórias em documentos, depoimentos e objetos”.
“Todos que se envolvem nesse fenômeno dos Jogos Olímpicos permitem-se construir memórias que estão relacionadas com localidades“, afirma a professora. Carolina explicou sobre as lembranças e memórias marcantes nas trajetórias que os Jogos Olímpicos proporcionam aos atletas.
Para encerrar o último painel do dia, o Prof. Maurício Batta Filho contou a história sobre os Jogos Olímpicos Rio 2016 e sua relação com a cidade de Juiz de Fora, falando sobre o planejamento dos Jogos e como isso impactou sua cidade natal: “Nos jogos Pan-Americanos de 2007, nenhuma equipe veio treinar em JF, já nos Jogos Rio 2016, eu diria que fomos a segunda cidade mais esportiva no período, perdendo apenas para Belo Horizonte“.
Sessões de Comunicações Orais
Duas salas foram reservadas para as apresentações de trabalhos por parte de estudantes e pesquisadores, que foram avaliados por bancas compostas de professores da área de Estudos Olímpicos. Na noite de sexta-feira (4), treze trabalhos foram apresentados.